terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ela se foi aos 70, forte e bonitona como sempre a vi.

Cada dia mais me convenço que a vida é o "aqui e o agora"...
as pessoas em primeiro lugar , sempre.
E que precisamos declarar nosso afeto e gratidão às pessoas que cruzam a nossa vida de forma positiva.
Nunca, nunca, deixe de declarar sua gratidão, seu amor, sua alegria às pessoas que lhe fazem bem, na hora em que você está com elas. Pode não haver uma segunda chance.
 
Marli foi uma dessas pessoas que marcou a minha vida. Amiga de minha mãe.
Amizade do tipo para vida toda e de outras vidas, sabe?!
Desde que me entendo por gente Marli faz parte da minha ´história.
Ela e os seus, que também eram nossos. Duas gerações. Duas gerações de amigos.
 
Elas sempre juntas no porão de costura. Eu junto com os filhos dela, na rua, na escada vermelha da Vó, nas horas dançantes...
 
Aprendi a fumar por causa das duas. Elas me mandavam comprar um picado e tinha que chegar no porão de costura com ele já acesso. Aprendi ai. E tomei muito pitos também., porque não podia fumar ora!!!! Criança não fumava.
 
Marli tinha uma cara séria, brava que só, mas um sorriso maroto no canto do lábio.
Parecia que tava sempre pensando em algo "safado" rsrsrsrs
Ela tinha sorriso de traquinagem, me entende...
 
Ela adorava a época de seca e eu na escola. Piolho na certa. Ela A-MA-VA catar piolho na minha cabeça. Alta e forte como era, me prendia entre suas pernas e vinha com o pente fino e a unhas grandes....
Eu achava ruim a beça, eu chorava, ficava triste, mas por incrível que parece esta é uma lembrança tão gostosa que tenho da minha infância. Me faz rir quando lembro dela rindo de mim e se deliciando com os meus piolhos....
 
Lembro que no meio da tarde, quando elas paravam para um cafezinho e um "picado", ela, mamãe e Marlene Café (outra amizade linda de minha mãe) elas conversavam sobre a vida de cada uma, confidenciavam algumas tristezas, mas sem julgamento, cada uma respeitava as escolhas da outra e o contexto de cada uma. Cada uma delas tinha uma ou mais cruzes para carregar, que não eram fáceis,  mas elas dividiam o peso.
 
Se elas me ouvissem chegar, a conversa parava na hora e eu ficava imaginando o que havia de tanto segredo,,, 40 anos depois a gente acaba sabendo partes das histórias e se pergunta: como elas conseguiam ser felizes apesar de tudo que passaram?! Como?!
 
Lembro, o misto de alegria e tristeza, da minha mãe quando a Marli contou que ia embora para os EUA. Minha mãe ia ficar longe de mais uma amiga. Márcia já havia ido anos antes. Mas mamãe sabia o quanto esta mudança podia fazer bem a ela e aos seus.
Mamãe sublimou sua própria tristeza e saudade na alegria de ver a amiga "melhorar de vida" e realizar um sonho. Ela me disse: Posso ficar triste não, vai ser bom para ela, para as crianças!!!

Não me lembro o ano. Talvez que estivesse ocupada demais com a turma da escola e alguma namorado. Não me lembro de ter dito a ela que sentiria falta. Não me lembro nem mesmo de termos nos despedido. Louco isto não é?!
 
Graças as voltas que a vida dá em 2008 eu pude vê-la de novo.
Recebida pela Sônia e família, sua segunda filha, pude reviver tantas lembranças...tão gostoso.
Fiquei feliz de ver todos felizes, tocando a vida de forma saudável feliz e prospera,
Mas minha mãe não a via a tempos...sei lá quantos anos.
   
 
 Numa noite, lá na casa dela, ela nos disse assim: Kaká, eu não volto ao Brasil mais, mas queria ver minha amiga de novo. Esta é uma das saudades que tenho do Brasil. Pedido feito, promessa firmada.
 
Eu levaria mamãe para vê-la no aniversário de 80 em 2010.
Deus, obrigada, por permitir cumprir esta promessa.
Obrigada pelo trabalho que nos possibilitou a viagem e pela saúde de minha mãe.
 
Elas conversavam o dia todo. Todo dia.
As duas juntas o tempo todo. Muito carinho e cuidado.
Toda família curtindo a Tia Dirce e elas se curtindo.

 
 
Bem, ela voltou ao Brasil....
E elas puderam se curtir mais um pouco.
Teve almoço, teve café, canjiquinha.
Teve desabafo, risada, lembranças boas e triste e teve arroz doce.
 
Elas tiveram tempo, graças a Deus.
E lá na casa de mamãe, já nos seus 85, tem uma muda de planta esperando Marli voltar ao Brasil para buscar, só porque Marli gostou e mamãe queria lhe agradar.
 
Fica a saudade e a certeza de que a vida foi produtiva, feliz e gloriosa.
A vida foi vivida, na intensidade necessária.
Fica a lembrança do sorriso maroto, daquele carinho escondido no jeitão "brabo" que só ela tinha,
 
Fica a nossa gratidão!!!
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário